Niède Guidon era natural da
cidade de Jaú, interior do estado de São Paulo, filha de pai francês e mãe
brasileira, Niède Guidon possui dupla nacionalidade. Graduada em História pela
Universidade de São Paulo (1959), especializou-se em Arqueologia Pré-histórica,
com ênfase em arte rupestre, na Universidade Paris 1 Panthéon-Sorbonne
(1961-1962), e obteve o seu doutorado em Pré-história, pela mesma universidade
(1975), com a tese intitulada Les peintures rupestres de Varzea Grande, Piauí,
Brésil.


Niède Guidon "é" uma
referência mundial em arqueologia, sendo pesquisadora, professora
universitária, e incentivadora da proteção e preservação do Parque Nacional
Serra da Capivara, fundado em 5
de junho de 1979, através do Decreto nº 83.548, no Estado do Piauí, em municípios de Brejo do
Piauí, Coronel José Dias, João Costa e São Raimundo Nonato, com área de 135 mil
hectares, onde há sítios arqueológicos com pinturas rupestres, que se tornou
Patrimônio Mundial Cultural da Unesco e Patrimônio Cultural Brasileiro.
Deixa legado enorme para a
ciência, a cultura e o patrimônio da humanidade, com sua partida para a
eternidade no dia de hoje, 4 de junho!
Foi a grande responsável por
transformar a região da Serra da Capivara em um dos mais importantes sítios
arqueológicos do mundo e pela preservação do patrimônio cultural e natural do
Brasil, além de criar a Fundação Museu do Homem Americano, que em parceria com
o Ibama, administra o Parque Nacional da Serra da Capivara.
Abaixo outro centro de pesquisa:
Mudou-se em 1992 para a cidade
de São Raimundo Nonato para estudar a vida dos primeiros habitantes do Brasil.
Quando chegou à região não havia nem saneamento básico, sendo criado ao longo
do tempo, a construção de uma fábrica de cerâmica, restaurantes, hotéis e
pousadas, o desenvolvimento da apicultura na região e até aeroporto no
município de São Raimundo Nonato, criado em 1993 e só inaugurado em 2015, mas
que ainda funciona sem a infraestrutura das demandas locais.
Como ela mesmo ressalta houve a
participação de pesquisadores brasileiros e franceses que a incentivaram no
árduo trabalho: (CLIC NA IMAGEM PARA LER O DEPOIMENTO)
“Tive o apoio dos meus
professores e consegui a verba francesa. Meus colegas da Universidade de São
Paulo, que tinham ficado, também foram me encontrar. Foi uma missão, desde o
começo, franco-brasileira”.
Foi integrante da Missão
Arqueológica Franco-Brasileira, iniciativa do Museu de História Natural de
Paris para desenvolvimento de projetos de arqueologia. Até sua aposentadoria
como docente, Niède Guidon seria a líder da missão, composta por pesquisadores
brasileiros, franceses e de outros países, assim como assistentes de campo
locais.
Por cinco décadas trabalhou
incansavelmente na região do estado do Piauí, sendo a principal responsável
pela estruturação científica e institucional do parque, liderando escavações no
Parque Nacional da Serra da Capivara, que comprovaram e mudaram todo o estudo
científico sobre a presença humana nas Américas.
A PRESENÇA DO HOMEM NA AMÉRICA
DO SUL
Seus estudos mudaram o conceito
sobre a chegada do Homo sapiens às Américas. Escavações no sítio da Pedra
Furada, o mais antigo do parque e um de seus cartões-postais, denota presença
humana na América do Sul ao menos de 32 mil anos.
“É um absurdo achar que o
continente foi povoado somente pelo estreito de Behring. Outro indício forte de
que houve vários caminhos e levas migratórias é a grande variedade linguística
encontrada entre os povos indígenas da América”.
RECONHECIMENTO
Premiada com os mais honrosos
títulos no campo da ciência, era Membro titular da Academia Brasileira de
Ciências, tornando-se grande oficial da Ordem Nacional do Mérito Científico.
Em 2014 tornou-se Chevalier de
la Légion d’Honneur, Governo de França e recebeu o Prêmio Fundação Conrado
Wessel-Ciência, Fundação Conrado Wessel. Também recebeu Homenagem pela defesa
à sustentabilidade, 5º Fórum Mundial do Meio Ambiente. Em 2010 foi condecorada
com a Medalha comemorativa dos 60 anos da UNESCO.
Foi a primeira mulher brasileira a receber o prêmio internacional “Hypatia
Award”, da Confederação dos Centros Internacionais
para a Conservação do Patrimônio Arquitetônico, em 2020.
Niède Guidon foi vencedora do
Prêmio Almirante Álvaro Alberto para Ciência e Tecnologia, entregue em setembro
de 2024, em sua residência, uma das maiores honrarias da pesquisa científica no
Brasil, concedido pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq), pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI),
em parceria com a Marinha do Brasil.
A POLÍTICA NACIONAL
Em muitos de seus depoimentos
deixou claro a falta de apoio político brasileiro para preservação do Parque
Nacional Serra da Capivara!
A principal batalha de Niède
Guidon é interna: a falta de vontade política!
A Fundação Museu do Homem
Americano (FUMDHAM), entidade civil sem fins lucrativos criada por ela e outros
pesquisadores em 1986 para cuidar do parque, não recebe o custeio para cobrir
as despesas fixas, como o funcionamento dos acessos aos visitantes, rondas de
combate à caça e segurança do museu a céu aberto. O parque não consegue gerar
receita própria por falta de estrutura nas cidades ao redor, isso gera o
mal-estar de ter que, por vezes fechar o Parque Nacional Serra da Capivara,
dizendo em alto e bom som:
“A falta de dinheiro é nossa
principal e constante ameaça”!
Niède Guidon combateu o bom
combate, agora ela será homenageada e enaltecida por essa “classe” que pouco a
ajudou manter o Parque Nacional Serra da Capivara!
Referências:
https://www.nature.com/articles/321769a0
https://brasil.mongabay.com/2023/07/niede-guidon-50-anos-na-defesa-da-serra-da-capivara-maior-tesouro-rupestre-das-americas/
https://fumdham.org.br/
https://www.abc.org.br/membro/niede-guidon/
https://fumdham.org.br/cpt_noticias_anexos/a-luta-de-niede-guidon-para-preservar-o-maior-tesouro-arqueologico-brasileiro/
thttps://pt.wikipedia.org/wiki/Ni%C3%A8de_Guidon
Fotos:
Fatorelli,
visita ao Sítio Arqueológico do Parque
Nacional Serra da Capivara, em agosto/setembro de 2024